Outro dia, pelo mais puro acaso, surpreendido com uma cena randômica no Corujão da Globo, descobri de onde é que, muito provavelmente,João Emanuel Carneiro, o escritor de A Favorita, sacou a cena shakespereana do desmascaramento "teatral" da Flora no clímax do folhetim televisivo.
"Descaradamente" o autor copiou a cena análoga de Cuidado, ela é francesa, filme de 2001!! onde a protagonista escrota, Starla, meio similar ao lado ruim de Donatella no ínicio da novela, expõe a duplicidade de Genevieve que, x tempo depois de ter sido sacaneada pela outra, à la Flora, retorna para se desforrar fazendo-se passar por uma francesa. É "entrada" à francesa por assim dizer.
Num problema parecido com o que houve com o filme recente da Cameron Diaz, Professora sem classe, o resenhista nessa página criticou o filme por esperar que o público tenha empatia pela Starla, a suposta heroína da história, quando sua antagonista, interpretada pela talentosa Piper Perabo, é muito mais engenhosa, alinhada, inteligente e de acordo com os parâmetros da "vítima" que supera adversidade dos filmes em décadas anteriores.
Conclusão: o compasso moral das comédias hollywoodianas está oscilando pro lado oposto.
Voltando a falar do paralelo entre as sequências: a similaridade é gritante, e fiquei espantado ao constatá-la porque inclui ângulos de câmera e elementos cenográficos. Claro que, para dar crédito ao autor global, o contexto é totalmente diferente, deslocado do registro cômico pro trágico/dramático.
Mas, sem dúvida, esse é mais um dos exemplos da máxima usada por Einstein: "o segredo da criatividade é saber esconder suas fontes"...
Mudar, como diz Alan Moore o "registro" de um conceito ou tratamento de um sentido pro outro, da comédia pro drama/tragédia é um dos maiores e mais eficientes macetes da arte da criação artística.
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