terça-feira, 17 de novembro de 2009
As "asas" dos Balrogs e suas origens
Chernabog, conceptual art de Kay Nielsen.
De onde, "diabos", vieram as "asas", a sombra e o fogo do Balrog em Moria? É sabido que nos escritos do Legendarium Tolkieniano esses atributos não existiam até a redação do Senhor dos Anéis no fim dos anos 30 e 40. O que terá mudado a visão de Tolkien? A resposta, enfim, parece ter dado as caras, ou os "chifres", nos últimos anos. Apertem os cintos e sentem que lá vem história...
Fogo de fornalha em olhos amarelos visíveis à distância...confere
Aproveitando posts meus feitos no fórum da Valinor.
Uma das coisas que mais parece intrigar o fã médio de Tolkien é a evolução das fascinantes criaturas "balroguianas" que Tolkien criou. Fonte de acirrado dissenso e debate enfre os fãs e especialistas que estudam a obra parece que, finalmente, com a difusão da mídia audivisual , DVDs, youtube,Internet as fontes para a notável evolução sofrida pela espécie durante a criação do Senhor dos Anéis estão finalmente vindo à tona.
Fogo e Escuridão... confere
"Asas" que se estendem de ponta à ponta... confere
Parafraseando Christopher Tolkien quando confrontado com a pergunta que não quer calar, particularmente, ( "I myself"), suspeito que Conrad Dunkerson , autor do ensaio mais detalhado e imparcial sobre essa matéria está na pista certa e que a revisão retroativa do conceito dos Balrogs e o acréscimo do cloak of darkness e as "asas" a partir da redação do Senhor dos Anéis reflete um possível contato com
Fantasia, o desenho da Disney, mais particularmente com o segmento conhecido como Noite no Monte Calvo.
E isso apesar do que diz essa carta ( ela, certamente, confirma que Tolkien reconhecia a força de algumas passagens e o talento dos animadores)
I recognize his talent, but it has always seemed to me hopelessly corrupted. Though in most of the 'pictures' proceeding from his studios there are admirable or charming passages, the effect of all lf them to me is disgusting. Some have given me nausea (...).
Uma passagem seguinte da mesma carta deixa entrever, todavia , que ele estava tomando as dores de alguém
He also accused Disney of being in his business practices "simply a cheat: willing and even eager to defraud the less experienced by trickery sufficently 'legal' to keep him out of jail"; he adds that his own affairs are in the hands of Allen & Unwin ("a firm with the highest repute")
Esse alguém deve ter sido T. H.White, o autor de a Espada era a Lei. Nunca ouvi falar de que ele e Tolkien tenham tido algum contato mas o contexto e a data dos comentários parece sugerir algo assim.
Ou talvez, o próprio artista Kay Nielsen, que havia migrado da Europa pros EUA, tendo sido demitido depois do fracasso comercial de Fantasia devido ao fato de ser lento demais para as necessidades do estúdio.
Há quem avente a hipótese de que a vítima das falcatruas da Disney aludida por Tolkien nessa passagem em particular tenha sido Doroth L. Sayers, a criadora de Mary Poppins que teve a obra desfigurada e cooptada pela Disney.
In 1939, Disney acquired the rights to White's bestselling book The Sword in the Stone, but would not produce his Sword in the Stone animated feature until over two decades later. This time frame loosely parallels Tolkien's own Middle Earth publishing history; The Hobbit was first published in 1937 and The Lord of the Rings followed two decades later. Tolkien's initial contacts with movie producers in the late 1950s were not far removed from Disney's production schedule on The Sword in the Stone.
Lembrando que em outra carta não publicada Tolkien também fala em relação ao SdA
Discussing sources for the work, the author states ``I did no study or research for my tale. It is an ``invention'' from beginning to end... If it is ``English'' - (not British,that is because I am English...'' However, Tolkien notes his ``professional calling as a philologist'' and that his study of ``early English'' has been ``digested''. Noting that analysis would be ``very complex'' he also suggests it would be ``...not (in my opinion) worth while...'' Tolkien states his belief that ``no one of us can really invent or ``create'' in a void, we can only reconstruct and perhaps impress a personal pattern on ``ancestral'' material...''
)
Tá bom, tá bom, nós todos "sabemos" como ele nunca fez estudo ou pesquisa pro SdA.... Na verdade, na década de 30, segundo o seu biógrafo oficial o Humphrey Carpenter no livro dos Inklings, ele, C.S.Lewis e o irmão dele liam o libreto em alemão de A Valquíria ( que "recreativo" hein?), a segunda opéra do ciclo do Anel do Nibelungo de Wagner para fazer um "estudo"(vide`` ensaio de Leslie Donovan sobre a influência da valquíria no Senhor dos Anéis e o próprio poema, Sigurd e Gudrun, que acabou de ser publicado pelo Christopher, inclui o conteúdo das palestras que Tolkien deu sobre a matéria envolvendo as fontes de Wagner e o dilema da "lacuna" do Edda Poético ".
Toda a pesquisa feita tanto para as palestras quanto para a composição do poema foi utilizada no Senhor dos Anéis, inclusive Hreidmar, o feiticeiro do poema, já era,literalmente um tipo de Senhor dos Anéis(no plural) e chamado, também, de "demônio" nas notas de Tolkien, coisa que não acontecia nas fontes de JRRT e Wagner embora já houvesse um Senhor do Anel que podia ser Andvari ou Alberich.
Elsewhere, eerie foreshadowings of Tolkien's later work appear: the traitorous "Vingi the venom-tongued"; the brothers Otr and Andvari, who fish and "there ate blinking/on the bank brooding/of black waters"; their demon father, Hreidmar, who cries, "The wreathéd rings/I will rule alone,/as long as life is/they leave me never!"
Quanto se vale a pena pesquisar suas prováveis fontes de inspiração, talvez esse exemplo possa ajudar a explicar porque é algo que vale a pena sim.
E ele também diz:
Concluding, Tolkien notes that ``...if I may say so, with humility, the Christian religion (which I profess) is far the most powerful ultimate source.
Very apropos indeed!!
Sombra, fogo, montanha mal-assombrada, vulto demoníaco "cloaked in darkness" "se elevando e estendendo asas" de ponta à ponta, regendo uma horda de goblins e seres diabólicos... Tá tudo ali. O nome do demônio, Chernabog, significa "Deus Negro", que, tb, foi um epíteto dado a Melkor no Legendarium da Terra Média.
Chernabog de Fantasia, character design de Kay Nielsen, artista dinamarquês reconhecido como influência de Tolkien e contratado pela Disney para trabalhar no longa.
O desenho foi exibido na Inglaterra em 1941 ( estréia no Reino Unido em 21 de Junho de 1941,no meio da Segunda Guerra quando o filho de Tolkien lutava na África), e durante o processo de redação do Senhor dos Anéis (1938-1949). Esse segmento do longa metragem era seguido por outro que era o Virgem Maria de Schubert.Lembremos que Tolkien era um grande devoto da Virgem e, então, podemos tentar imaginar como ele se sentiria assistindo o desenho naquela situação específica.
Interessante ressaltar que no Fellowship of the Ring o demônio , o balrog de Moria, aparece logo antes do encontro com Galadriel, que é um análogo da Virgem Maria ( evoca características de Maria sem ser uma alegoria da mesma),
142 Para Robert Murray, SJ.
[O Padre Robert Murray, neto de Sir James Murray (o fundador do Oxford English Dictionary) e um amigo íntimo da família Tolkien, lera parte de O Senhor dos Anéis em provas de granel e em texto datilografado e, por sugestão de Tolkien, enviara comentários e críticas. Ele escreveu que o livro lhe deixara com uma forte sensação de “uma compatibilidade positiva com a ordem da Graça”, e comparou a imagem de Galadriel à da Virgem Maria. Ele duvidava que muitos críticos fossem capazes de dar muito pelo livro — “não terão um escaninho devidamente rotulado para ele”.]
(...)
Acredito que sei exatamente o que você quer dizer com ordem da Graça; e, é claro, com suas referências à Nossa Senhora, sobre a qual toda a minha própria pequena percepção da beleza, tanto em majestade como em simplicidade, é fundamentada. O Senhor dos Anéis obviamente é uma obra fundamentalmente religiosa e católica; inconscientemente no início, mas conscientemente na revisão.
E nessas outras tb:
213 De uma carta para Deborah Webster
(...) Ou mais importante, sou um cristão (o que pode ser deduzido a partir de minhas histórias), e de fato um católico romano. O último “fato” talvez não possa ser deduzido, embora um crítico (por carta) tenha afirmado que as invocações de Elbereth e o caráter de Galadriel tal como diretamente descrito (ou através das palavras de Gimli e Sam) estavam claramente relacionadas à devoção católica à Maria. Outro viu no pão-de-viagem (lembas) = viático e na referência à sua alimentação da vontade (vol. III, p. 213) e por ser mais potente quando em jejum uma derivação da Eucaristia. (Isto é: coisas muito maiores podem colorir a mente ao lidar com as coisas menores de um conto de fadas.)
320 De uma carta para a Sra. Ruth Austin
25 de janeiro de 1971
Fiquei particularmente interessado em suas observações sobre Galadriel..... Creio que seja verdade que devo muito desta personagem ao ensinamento e imaginação cristãos e católicos sobre Maria, mas na verdade Galadriel era uma penitente: em sua juventude uma líder na rebelião contra os Valar (os guardiões angelicais). Ao final da Primeira Era, ela orgulhosamente recusou o perdão ou a permissão para retornar. Ela foi perdoada por causa de sua resistência à tentação final e esmagadora de tomar o Anel para si
Essa alternância entre Luz e Escuridão adotada pelos animadores da Disney nesses segmentos contém um dos principais elementos na dinâmica interna dos livros de Tolkien, particularmente, nas narrativas longas, como é o caso do Senhor dos Anéis. Então, muito embora Tolkien tivesse uma famosa aversão pelo efeito de "disneyficação" das animações do estúdio podemos teorizar que ele era mais brando ao apreciar partes como essas que são repletas de dark imagery e cenas dantescas que fogem do parâmetro normal "sanitizado" associado às produções Disney. Não por acaso, o desenho tb foi o primeiro fracasso de bilheteria do estúdio.
É muito interessante o fato de que Tolkien em um rascunho da passagem em Moria dá destaque para o "fogo de fornalha dos seus olhos amarelos que podia ser visto à distância"
"A figure strode to the fissure, no more than man-high yet terror seemed to go before it. They could see the furnace-fire of its yellow eyes from afar
Lembra algúem?
Noite no Monte Calvo Ave Maria em Fantasia
Interessante reparar que Tolkien foi definir Gandalf em uma carta como sendo justamente um "angelos".
The horror of the demons, ghosts, skeletons, witches, harpies, and other evil creatures in Night on Bald Mountain comes to an abrupt end with the sound of the Angelus bell , which send Chernabog and his followers back into hiding, and the multiplane camera tracks away from Bald Mountain to reveal a line of faithful robed monks with lighted torches. The camera slowly follows them as they walk through the forest and ruins of a cathedral to the sounds of the Ave Maria.
Uma pequena curiosidade:
The Lord of the Rings: The Two Towers (2002)
- Scene of the procession of elves moving over the bridge in Rivendell resembles "Ave Maria" sequence with the pilgrims moving in the exact manner over a similar bridge with similar torches
181 Para Michael Straight [rascunhos](...)
Não há “personificação” do Criador em lugar algum nesta história ou na mitologia. Gandalf é uma pessoa “criada”, embora possivelmente um espírito que existia antes no mundo físico. Sua função como um “mago” é a de um angelos ou mensageiro dos Valar ou Governantes: para auxiliar as criaturas racionais da Terra-média a resistirem a Sauron, um poder grande demais para elas sem auxílio.
A escolha da forma latina do termo "mensageiro" , nesse caso, pode não ter sido coincidência dado o contexto e os paralelos presentes entre esses trechos do filme e do livro. Food for thought.
Mas como foi que essa polêmica medonha nasceu? História complicada, lembrando muito a parábola das pessoas que discutem sobre a cor de um muro estando cada qual de um lado dele pintado de cor diferente...
Bear with me.
Antes vou contar uma história: há dezenove anos atrás quando eu lia a passagem pensei: ah, bom, "a sombra que o envolvia parecia "duas imensas asas". Aí quando veio a passagem seguinte, "suas asas se estenderam de parede a parede" eu pensei: "fudeu"!! "Agora não dá mais pra saber. Ele fez de propósito, tenho certeza que fez"! Uma observação que bate exatamente com comentários recentes feitos sobre o estilo de Tolkien pelo estudioso que fez A História do Hobbit, John D.Rateliff
I would argue that the style in which he chose to write, which he painstakingly developed over several decades until it
reached its peak in The Hobbit and Farmer Giles of Ham and The Lord of the
Rings and some of the late Silmarillion material, is deliberately crafted
to spark reader participation. ( nota :daí o efeito proposital de usar linguagem ambígua gerando interpretações muito divergentes)
(...)
In addition, I think another element is at work here, one not planned
by Tolkien but nonetheless present throughout The Lord of the Rings: he
often describes a scene not as you would experience it but as you would
remember it afterwards. That is, his prose assumes the tone of things
which have already happened, as they are stored in our memory. Thus
the “walking bits,” which have so annoyed impatient readers who are
only reading for the plot, do not in fact detail every day of Frodo’s year-
long journey but instead are rendered down to a relatively few vivid images, such as would linger in the memory long after the event.
De qualquer modo pensei: eu não acho que Tolkien faria os Balrogs voarem , iria ser muito roubação mas que eles ficam MUITO MELHOR com as asas lá isso ficam. E, pessoalmente, SEMPRE os desenhei com asas.
Mas por que que eu tive essa minha reação de achar que Tolkien tinha, deliberadamente, melado qualquer possibilidade da gente saber com certeza só lendo a descrição do livro? Levei anos pra topar com alguém que colocasse em palavras aquilo que a gente "sabe"de maneira intuitiva mas tem dificuldade de explicar de modo inteligível e "gramatical". E não tenho vergonha nenhuma de admitir isso porque MUITA GENTE tem essa dificuldade até mesmo em inglês.
Explicação detalhada e, tanto quanto possível, imparcial nesse ensaio
A coisa toda nasce de duas descrições incluidas na passagem por Moria. " a sombra que o envolvia se estendeu como duas imensas asas" e , em seguida, "suas asas se estenderam de parede a parede. Alguns afirmam, como o Christopher Tolkien, que o problema é que essas "asas" mencionadas no segundo trecho podem ser interpretadas como se não estivessem ligadas à primeira menção.Mas, num exame mais acurado vemos que o problema não é bem esse.
O dilema com as duas passagens em Moria não é o fato delas poderem ou não ser interpretadas em conjunto. Elas têm que ser interpretadas juntas porque o "suas asas se estenderam de parede a parede" precisa, pelo contexto, estar ligado às "asas" mencionadas antes, independente de qual for a sua natureza. Se fosse, simplesmente, "asas se estenderam de parede à parede seria diferente" mas o "suas" especifica que está havendo referência às mesmas asas citadas antes.
A questão é que, como o Conrad Dunkerson explicou, a interpretação que coloca a segunda passagem sendo metafórica depende da primeira ser interpretada como símile ( o"como duas imensas asas") e essa é só uma de duas possibilidades distintas já que pode indicar, também, evolução de distinção de incerteza pra claridade, uma possibilidade que o próprio CT parece não ter compreendido muito bem a princípio.
Similar ao poço em Moria no mesmo capítulo, que era " like a well", "como um poço", e,depois, foi confirmado pelo Gimli como sendo precisamente isso mesmo. Também como a sombra da Gwaihir salvando Gandalf no sonho na casa de Bombadil onde ela era "como a sombra de grandes asas" . Foi só depois do Conselho de Elrond , vários capítulos depois, que ficou realmente claro que era mesmo uma águia, um animal alado, que projetou a sombra.
Nós, em português , também usamos a expressão "como" em contextos assim pra descrever algo que parece difícil de definir à primeira vista. A evolução de como duas imensas asas´ pra "suas asas se estenderam de parede à parede" , nessa interpretação, revelaria uma percepção mais acurada do que antes era difícil de discernir na figura do Balrog, quando ele se aproximou, a escuridão que o cercava teria deixado entrever as asas "reais" que antes se confundiam com o cloak of darkness do Balrog. Então é mesmo o caso de haver duas interpretações diferentes para a mesma passagem e não há como saber qual das duas é a correta.
Conrad Dunkerson aventa a hipótese de que Tolkien usou a linguagem de forma ambígua e optou por usar verbos ambivalentes como o "flying from Thangorodrim" "fugindo" de Thangorodrim) e expressões dúbias como "winged speed" ( velocidade "alada")porque, nos escritos mais tardios, ele queria que os Balrogs tivessem asas e, talvez, até voassem, mas se deparou com a necessidade de rever toda a cronologia pra introduzir a nova idéia preferindo ficar no meio do caminho enquanto não revisasse completamente a mitologia do Silmarillion.
Nesse sentido, a possibilidade de se determinar se o Fantasia foi a inspiração pro Tolkien pode ajudar a dirimir a dúvida. Para mim, pessoalmente , fica claro que Tolkien tinha intenção de que o Balrog fosse detentor de asas de algum tipo porque, acho que a maioria concorda, ele fica MUITO mais amedrontador com a posse delas. Pergunte pra qualquer bandido em Gotham City porque é que o Batman mete tanto medo nos bandidos além da voz de locutor com faringite dele e responderão que tem a ver com a capa do Morcegão...
E outra coisa: olhem só pra essa pintura linda do Tedy Nasmith, o balrog parece tão...tão peladinho coitado... Exposto pro aço da Glamdring desse jeito. Devemos lembrar que, mesmo que as asas, se não fossem só de sombra , não servissem mais pra vôo, seja lá por que razão , que elas ainda são como membros extras, podem servir de escudo e arma de ataque e/ou intimidação, então por tudo que é motivo , estético, literário, lógico, balrog bom mesmo é balrog com asa... mesmo que não voe e essa parece que era mesmo a intenção de Tolkien. IMO. Não reclamem comigo, culpem o Chernabog. Até o Tolkien tem a desculpa: "o demônio me levou a fazer aquilo" e ele não estará mentindo...
Poderiam me perguntar:
-"Mas vem cá , por que é que os Balrogs ou mesmo o Balrog de Moria sozinho teria Asas daquele tamanho e não as teria feito com condição de voar? Já que o corpo fána deles é "self-arrayed", auto-envergado, não é meio estranho não"? Pergunta bem justa.
E aqui vai a resposta:
Justamente por causa disso É perfeitamente possível que houvesse Balrogs COM e SEM asas.E é perfeitamente possível que um balrog que não tivesse asas antes pudesse ter passado a ter depois. Também é possível que todos tivessem mas eles houvessem perdido a capacidade de voar por efeito colateral do processo descrito na nota 5 do Osanwë Kenta ( onde o fána virava hröa ,gerando corpo mais material e "sólido", e , por isso , mais pesado,(vide a diferença de peso que Gwaihir citou entre Gandalf , o Branco e o Cinzento) e/ou por dano sofrido nessa forma depois que ela se tornou "hábito costumeiro" ficando mais vulnerável.
Assim também foi com alguns de seus maiores servos, como vemos nestes dias atuais: eles se tornaram unidos às formas de seus atos malignos, e se estes corpos eram tomados deles ou destruídos, eles eram anulados, até que tivessem reconstruído uma imagem de suas habitações anteriores, com a qual eles podiam continuar os cursos malignos nos quais eles haviam se fixado”. (Pengolodh aqui se refere evidentemente a Sauron, em particular, com cuja elevação partiu, por fim, da Terra-média. Mas a primeira destruição da forma corpórea de Sauron foi registrada nas histórias dos Dias Antigos, na Balada de Leithian.)
Ou seja, o Balrog poderia ter perdido a capacidade de voar mas poderia não ter mais como se livrar das asas porque elas já eram parte do corpo definitivo.Talvez isso tenha acontecido com todos eles no período do Cerco de Angband. Ou , talvez, durante as 3 eras do Cativeiro de Melkor.
Por causa disso Sauron, inclusive, não teve que se contentar em recriar seu fána na Terceira Era SEM o dedo que foi cortado por Isildur junto com o Anel? Aí Tolkien demonstra que certas lesões sofridas no fána que virou "morada habitual" não podem ser reparadas nem com a criação de um fána inteiramente novo.Ele pode ter que "herdar" o ferimento ou mutilação recebida previamente, como se o próprio espírito ficasse traumatizado com o aleijão, mais ou menos como a "dor fantasma" de membros amputados que, nos maiar, parece virar um membro ou apêndice permanentemente lesado ou amputado. Phantom limb
O Tolkien nunca disse, explicitamente, que isso aconteceu com Sauron, mas a evidência da cronologia sugere que sim, uma vez que a perda do dedo foi na forma material anterior destruída no fim da Segunda Era, mas o dígito faltoso ainda estava presente ( ou ausente? vêem como o uso da linguagem é ambíguo?) no corpo de Sauron que Gollum viu quando foi preso na Torre Negra no fim da Terceira Era. Também creio que seria meio tentador para o Tolkien transfomar os Balrogs em autênticos anjos caídos, fazendo com que sua perda de capacidade de vôo , ao não serem mais capazes de "editar" a forma tornada definitiva e compensar a aquisição de peso com outro design ou tamanho para as asas, fosse um estigma de sua condição decaída. Seria o tipo de ironia que Tolkien gostava de ver. Deficiência física refletindo deterioração espiritual, seres alados, "anjos caídos", impossibilitados de voar... Tem uma certa poesia aí.
No meio de tantas possibilidades essa disputa entre Pró-Asas x Anti-asas radicais vira puerilidade e "dogmatismo sem sentido", uma coisa contra a qual Tolkien tanto lutou na sua obra, tanto como filólogo e teórico das Letras quanto como escritor de literatura e ficção. Já passou da hora de enterrar de vez essa cizania por causa de uma "diabrura" linguística deliberada de JRRT. Espero que esse texto seja um bom ponto de partida pra isso.
E eu adoro o efeito de ver o Balrog com asas caindo engalfinhado com o Gandalf. "Vai uma asinha aí"?
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